Muitos sonham com o céu. O meu projeto é o chão. Chão-chão, tão pouco e tão fundamental. Até a palavra é fácil, os nenês já entendem. E ninguém discorda da premissa básica de que, depois da queda, do chão não se passa.
Minha intimidade com o chão é tanta que converso com ele e seus parentes - pedra, grama, terra e até com o asfalto com que o vestem. Tem gente que nem olha para o chão. Eu, ao contrário, construí por muito tempo este grau de relacionamento que temos hoje.
Depois de uma desilusão, do que a gente precisa? De chão. Enquanto os pés não assentam direito, não adianta ficar sonhando com a Lua, se não tem alicerce.
Depois de uma briga daquelas raladas, machucadas, arranhadas, do que se precisa? De chão para reconstruir o afeto ou de chão para mudar a rota e seguir em frente.
Muitos se projetam no espaço, escalam montanha, furam nuvens, escapam da atmosfera. Mas voltam para o beira-chão, é certeza.
O chão é personagem de todas as histórias de começos e de recomeços. E de todas as histórias de buracos e de tropeços.
Por que a indústria veio com a expressão chão de fábrica? Porque, sem organizar o chão, é certo que não adianta projetar superveículos, supermáquinas ou superssonhos de consumo. Dê ao chão a atenção que ele merece, que o resto vem.
Eu sonho com chão, acreditam nisso? Às vezes o enxergo arenoso, seco, quase desértico. Sei interpretar a imagem pela manhã: chão batido significa que está tudo na estaca zero. É dureza constatar que a vida ainda está no chão. Contudo isso traz um consolo – ainda tudo pode ser feito.
Agora, um capítulo à parte é a expressão que o escritor, jornalista e compositor Orestes Barbosa inventou em 1937, “chão de estrelas”. A expressão é um monumento, um dos pontos máximos da nossa arte musical. Orestes, em parceria com Sílvio Caldas, juntou o que há de mais básico com o que há de mais sublime. E ainda inventou a frase que é considerada a mais bonita de toda a música brasileira. “Tu pisavas nos astros distraída.”
Paro por aqui, gente. Dizer o que mais?
Por: Eliana Haberli, participante do grupo
Eliana, estava agora mesmo lendo sua crônica para minha irmã. Foi como se a lesse pela primeira vez. O sentimento de beleza foi o mesmo, acrescido da palavra "delicadeza" dita por minha irmã. Adoro suas crônica, Eliana, mas esta... paro por aqui... dizer o que mais?
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