Há muitas maneiras de definir um cientista. A pesquisadora Monica Ferreira, diretora do Laboratório Especial de Toxinologia Aplicada do Instituto Butantan, construiu sua carreira de cientista entrando para uma área inexplorada, criando pesquisas novas a partir de um peixinho pouco estudado no Brasil (o zebra fish, ou paulistinha) e direcionando seu trabalho para uma área extremamente carente de ajuda – a dos bebês que nascem com severas anomalias no Nordeste brasileiro, sem que se saiba a causa com precisão.
Resumindo, para Monica Ferreira, a definição de ser cientista é enfrentar desafios. Recém-formada em Biologia na Universidade Federal de Alagoas foi atraída para a área de imunologia e veio para o Instituto Butantan inaugurando a pesquisa de peixes peçonhentos, vertente nova dos estudos de animais peçonhentos como cobras, aranhas e escorpiões, a que o Instituto Butantan se dedica há mais de um século. Ninguém tirava da cabeça da jovem pesquisadora, nos anos 1990, que era necessário incluir os riscos causados pelo veneno de peixes-sapo, bagres, arraias e peixe-escorpião ao tradicional campo dos riscos das picadas de cobra.
Mas foi o ágil e colorido zebrafish, dos aquários ornamentais, que norteou uma das mais importantes pesquisas de toxicidade realizada hoje no Butantan. Monica Ferreira foi uma dos que enxergaram nesses peixinhos vantagens importante em comparação com outras cobaias usadas em laboratórios de pesquisa, como ratos. Os “paulistinhas” se reproduzem em grande escala (100 a 150 embriões por dia), se tornam adultos em menos de uma semana e são transparentes o suficiente para facilitar o monitoramento dos seus órgãos. Além do mais, para testar a reação orgânica de novas substâncias nos peixinhos basta colocar a substância na água do aquário – sem a etapa da injeção. O Instituto Butantan implantou a Plataforma Zebrafish no laboratório que a cientista dirige.
Foi essa rapidez de respostas dos peixinhos que acabou levando a pesquisadora para Campina Grande, há poucos anos, quando se espalhou pela população da vários locais daquela região o nascimento de bebês com anomalias. Mais do que a microcefalia, os médicos estavam se deparando com nascimento de crianças sem olhos, sem bocas, sem órgãos vitais.
Desconfiava-se do abastecimento de água. Em poucas semanas, os peixinhos da Dra. Mônica, nos seus aquários abastecidos com água de diversos açudes comprovaram a suspeita dos médicos. Também os animaizinhos começaram a se reproduzir com terríveis anomalias. A água de várias fontes e dos caminhões-pipa estava contaminada. A intervenção da pesquisadora foi determinante para que se possa solucionar o problema.
Hoje, o laboratório especial comandado por ela no Instituto Butantan, traz na fachada a apresentação, as ilustrações, as características e toda a utilidade científica daqueles peixinhos. Para ninguém mais perguntar “que peixe é esse”. Dra. Monica Ferreira fez palestra para os participantes do Circuito Butantan da Maior Idade no dia 16 de maio.
Por: Eliana Haberli, participante do grupo
Eliana, muito esclarecedora a matéria por você elaborada, parabéns. Realmente, a pesquisa da Dra. Mônica foi bastante relevante, quer no que se refere as peçonhas do animais aquáticos, quer na utilização do zebrafish como cobaia.Gostaria também de destacar o brilhantismo e simpatia da prof. Mônica como palestrante.
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