A peça se passa dentro da cabeça de uma artista. Da Renata, da Nina, da Bianca, da Bárbara, do Bolzan, do Rafael, de todas que criaram esse trabalho. Como se pudéssemos perceber outras consciências, outras subjetividades, coisas que são, e de repente já não são mais. Coisas que se revelam, e desaparecem, algo que vejo e de repente, já não está mais ou já não é.
Quais questões levantadas pelo texto de Tchekhov atravessam o tempo e chegam até nós, hoje? E de que modo? E que formas são possíveis, hoje? Há formas novas, futuros possíveis? Quais direitos estão garantidos para uma mulher numa sociedade ainda machista, etarista e conservadora? Como jovens artistas buscam sua própria voz hoje? Qual o valor da arte, para quem se produz, com quem? Que espaços ocupar e construir? Como renovar, como artistas, os sentidos da vida, da liberdade e do amor, com e para o público, numa experiência viva, no agora?
Tudo isso habita a memória e o imaginário de uma atriz, que nos anos 70 participou de uma célebre montagem de A Gaivota, no Rio de Janeiro, e está a caminho do ensaio e lembra que, naquele momento, num dia em dirigia um carro indo para o ensaio, teve uma sensação inédita, como se o topo da sua cabeça se abrisse e ela tivesse uma súbita consciência do todo: tudo ficou nítido, ela mesma, as outras pessoas, seu lugar no mundo, as coisas, sua conexão com o universo, o tempo passado e o tempo futuro. Nesse outro estado de consciência ela revê personagens de sua vida e de sua arte, atravessando o tempo e ressignificando suas existências, ao vivo, hoje.
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