segunda-feira, 7 de maio de 2018

Cores da Latinoamerica - Crônica



A América Latina é florida. É a mensagem legada para os visitantes da exposição recém-terminada no Memorial da América Latina. O tema das cores e das flores é costumeiro naquele espaço da mão aberta, mostrando as veias expostas. Mais uma vez, os tons chamativos nas imagens, esculturas, vestes e objetos foram exibidos no Pavilhão da Criatividade. Beleza pura. Um chapéu boliviano com o detalhe da margarida. Ou da sempre-viva. Uma saia peruana com bordados sobrepostos. Pinturas floridas, guirlandas floridas, xales floridos, imagens de pássaros e flores, um dorso mexicano coberto por borboletas matizadas. É um concerto. Cada tom, surton, traço, é uma nota musical celebrando o sol e a vida. A arte popular brasileira contribui com seus bonecos e enfeites de altar, bem afinada no conjunto. Quanta cor! Quanto amor!
Quando foi que esquecemos tudo isso e passamos a cultivar o marron, de sotaque francês? Pior ainda, quando foi que escolhemos o cinza? Certamente, foi quando a gratidão ao Criador abandonou nosso coração. Castanho e cinza, ensina a arte popular latino-americana, são apenas a base do trabalho artístico, não foram feitos para se exibirem sós, megalomaníacos.
Estava tudo tão bom – as carrancas dos barcos, as fitas do maracatu, as cores do bumba-meu-boi, as rosas bem vermelhas, bem sinceras, bem caipiras! Veio a globalização e roubou tudo. Sim, eu sei, era inevitável. Também no Japão dos pássaros e das flores de cerejeira chegaram os ternos e “tailleurs” deletando quimonos e leques.
Mas, gente, que é isso, vamos abrir mão de tudo sem mais nem menos? Não vamos nos esquecer das flores no cabelo. Dos amores-perfeitos nos bordados. Das camélias na decoração. Ou vamos nos restringir apenas às cores das bandeiras e das camisas dos times de futebol, essa pobreza? Eu arrisco até a pensar que algumas manifestações de rua cheias de bandeiras rubras ou verde e amarelas são nada mais do que saudade dos tempos das flores dos jardins de casa. Reprime a lembrança boa dá nisso, convulsão social.
As cores latino-americanas são poemas. No mundo todo, flor e cor se juntam num amálgama poético, não vou cair aqui na cilada de repetir arrogâncias do tipo “nossos bosques têm mais flores”. Porém cabe a nós recitar os poemas das "nossas" combinações coloridas, guardá-los bem na memória e aspirar o perfume da dama-da-noite. Vamos à luta, pessoal. Abaixo o Alzheimer acinzentado dos costumes! 


Por: Eliana Haberli, participante do grupo

2 comentários:

  1. Amei Eliana, estou me tornando cada vez mais sua fã. Vamos às cores e aos amores latino-americanos.

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  2. Amei Eliana, estou me tornando cada vez mais sua fã. Vamos às cores e aos amores latino-americanos.

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